domingo, 27 de março de 2011

CÉU NA TERRA – SANTO DAIME - SAIA CORRENDO

O acesso a grupos daimistas é muito fácil, não existe nenhum impedimento. Foi assim que, levada pela minha incansável curiosidade, ou apelo, espiritual me vi dentro, por engano de informação, no Céu na Terra.
A ayhuasca é dada generosa e indiscriminadamente nesta orientação, os grupos são autônomos e cada “padrinho” (título do chefe) decide seu ritual que parte de um princípio de busca de autoconhecimento. Mas isso eu não sabia até vivenciar os efeitos que odiei plenamente. Talvez, se pudéssemos ficar apenas no sensorial, o ganho fosse significativo, uma terapia acelerada, mas não se tem escolha, as coisas simplesmente acontecem. Talvez se a dose tomada fosse menos generosa os efeitos devastadores não aparecessem, sei que pode ser assim por informação de meu filho, mas não vale a pena arriscar a menos que se conheça o grupo e se saiba que o controle é maior. O padrinho deste local é daimista há 21 anos e não sei o que este uso de 15 em 15 dias possa ter feito com seu discernimento.
Aqui vem gente de lugares distantes e me pergunto o que os atrai. Uruguaiana, Florianópolis, Curitiba. Longe demais uma vez que estas cidades também tem grupos daimista. No meu pequeno entender talvez venham aqui exatamente por que beberão muito e começo a compreender por que vem armados de colchonetes e cobertores, dormirão aqui para que o efeito se dissipe completamente.
Não posso deixar de fazer uma leitura psicanalítica e vejo uma justificativa forte para tomar este psicoativo poderoso que provoca, em primeira instância, contato sensorial com os sentimentos guardados em nosso inconsciente. Depois disso pode-se começar uma “viagem” psicodélica alucinante da qual tudo que eu queria era sair correndo. Cores, sons, imagens do que me cercava, mesmo de olhos fechados, existia em outra dimensão extrapolada, tudo era grande, extremamente colorido e, se possível descrever assim, redondo.
A ligação com o álcool também foi muito aguda com tudo que ele provoca. Levei minha mente de volta ao meu corpo e passei a sentir os efeitos da entrada da droga em minha corrente sanguínea. A contratação dos músculos das coxas, depois a zonzeira igual ao princípio de uma bebedeira, um sinal de que o mergulho seria mais profundo e os resultados péssimos, me dando apenas uma sensação de impotência e desgoverno de meu consciente. Sair deste estado foi uma luta constante, odeio a perda da racionalidade e tive a certeza desta verdade em mim. Queria vomitar e nada de ânsia de vômito, queria me levantar e tinha medo de cair. Ouvia as pessoas na volta em espasmos, lá fora, na grama. Isso era a espiritualidade?
Não consigo acreditar que encontrar com o mundo invisível seja esta coisa maluca e penso em Aldous Huxley e suas experiências com LSD para conhecer efeitos. Isso parece com LSD embora nunca tenha tomado, mas lido o suficiente. Já participei de tantos rituais espiritualistas, nenhum precisou de nada para abrir a sensibilidade.
No final das contas, o mundo espiritual é apenas uma parte de nosso mundo interno e é impossível, fora da fé, saber o que é real e o que não é, exatamente como com a ayhuasca. Tudo no mundo mental ou se acredita ou se descarta. Prefiro descartar esta mecânica perigosa. Se houver um gen de dependência em seu DNA o risco é imenso. Se gostar do efeito, lembre-se: o bom e fácil é um perigo iminente, se não gostar não volte mais para ver se aprende.
Vejo o padrinho “viajando” e falando coisas ridículas e infantis quando alguma pergunta parte deste pessoal crédulo que jura estar em contato com o mundo dos Orixás. Para mim ele é um encantador de serpentes que caça as mais terríveis que nos habitam, mesmo sob a forma de beleza. Entendo também que ficar tanto tempo “ligado” é impossível sem uso de alguma substância e por isso também no Batuque ou Candomblé se usa a bebida alcoólica. Nos trabalhos kardecista os atendimentos são rápidos apenas mentais, um cuidado para não permanecermos “tanto” do outro lado do mundo.
Analiso as pessoas que buscam o Santo Daime, muitas trêmulas e frágeis, outras mergulhadas em solidão e outras ainda apenas curtindo sob certa segurança o usufruto desta beberagem sagrada e psicodélica. Para mim são todas justificativas apenas, assim como um dependente químico as usa tão bem, escamoteando a verdadeira razão do uso que é o uso em si e seus efeitos.
Santo Daime quer mesmo dizer: Santo, dai-me o que preciso e se deixa a escolha do que precisamos para o santo, ou seja alguém ou algo escolhendo por nós, deixando à revelia nossa vontade sobre o que necessitamos, embora muitas vezes nem nós sabemos o que necessitamos exatamente, mas ainda prefiro o livre arbítrio com todas suas possibilidades de erros.
Voltar ao normal demora e isso me assusta e me dá culpa e raiva de ter sido tão ingênua. Quando o “padrinho” falou sobre terapia grupal e houve apenas comentários infantis sobre adoração ao Daime e a ele mesmo. Neste momento eu deveria ter visto o que se ativava sob este ritual e caído fora ligeirinho.
O budismo diz que tudo em que acreditas é verdade para ti. Fique cada um com sua verdade intransferível.
O acompanhamento dos aspectos negativos me deu certeza do que não quero para mim e o que não devo fazer por que quebrarei a cara. De certa forma um aviso de alerta bem consistente.
Como experiência sempre tem aprendizado é isso que carregarei comigo: o ódio mortal ao álcool, uma consciência espiritual que não precisa de nada para se manifestar, a dor que devo aprender a administrar por que não tem como arrancá-la e um até nunca mais, Santo Daime.


INFORMAÇÕES ADICIONAIS
Santo Daime
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Santo Daime

Santo Cruzeiro
Também conhecido como cruz de caravaca
O Santo Daime é uma manifestação religiosa surgida em plena região amazônica nas primeiras décadas do século XX. Consiste em uma doutrina espiritualista que tem como base o uso sacramental de uma bebida enteógena (para os psiquiatras, uma droga psicodélica, a ayahuasca, com o fim de catalisar processos interiores e espirituais sempre com o objetivo de cura e bem estar do indivíduo. A doutrina não possui proselitismo, sendo a pratica espiritual essencialmente individual, tendo o autoconhecimento e internalização comoo meios de obter sabedoria.
Segundo seus adeptos, a doutrina do Santo Daime é uma missão espiritual cristã, que encaminha os seus praticantes ao perdão e a regeneração do seu ser. Isto acontece porque o daimista, ao participar dos cultos e ingerir o Santo Daime inicia um processo de auto conhecimento, que visa corrigir os defeitos e melhorar-se sempre, para que possa um dia alcançar a perfeição (objetivo megalomaníaco na minha análise, ser Deus Perfeito não é para minha humanidade).
Nos rituais sempre há uma forte presença musical. São cantados hinos religiosos e são usados maracás, um instrumento indígena ancestral, na maioria dos locais de culto, além de violas, flautas, bongôs e atabaques.
Surgiu no estado brasileiro do Acre, no início do século XX, tendo como fundador o lavrador e descendente de escravos Raimundo Irineu Serra, que passou a ser chamado dentro da doutrina e por todos que o conheciam como Mestre Irineu. Após conhecer a bebida sacramental chamada de ayahuasca pelos nativos da região Amazônica, Irineu Serra teve uma visão de características marianas, em que um ser espiritual superior lhe entrega a missão do Santo Daime. (Muitos visionários dizem ter recebido missões divinas, grande parte terminaram em morte ou loucura – o grifo é meu).
Mestre Irineu não inventou a ayahuasca, foi apenas responsável pela cristianização do seu uso, rebatizando a bebida a partir do rogativo "Dai-me Amor", "Dai-me Firmeza". A nova seita religiosa mesclou elementos culturais diversos como as tradições caboclas e xamânicas, o catolicismo popular, o esoterismo e tradições afro-brasileiras.
Na década de 1930 inicia seus trabalhos espirituais com um pequeno grupo de seguidores nos arredores de Rio Branco e, com o passar dos anos, viu esse grupo aumentar em tamanho e importância no cenário acreano. Raimundo Irineu Serra faleceu em 6 de julho de 1971. Após seu falecimento, houve dissidências, sendo a mais famosa, a liderada por Sebastião Mota de Melo, a partir do início da década de 1980.
Em 2006, estimava-se em aproximadamente 10.000 os seguidores dessa doutrina no Brasil e no mundo. Há centros legalmente instituídos em quase todos os estados brasileiros e em países como Espanha e Países Baixos, além de grupos que celebram os cultos em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Portugal.
A doutrina ficou então dividida em duas vertentes principais:
Inúmeros centros independentes ou não diretamente ligados ao núcleo primeiro ou seu dissidente, surgiram após a expansão para o resto do país. Um dos mais recentes desdobramentos desta expansão é o surgimento de centros independentes, que promovem sincretismos com a Umbanda, O Espiritismo, o Hinduísmo (a incorporação de várias filosofias o colocou como experiência espiritaul da Nova Era – grifo meu).
O uso ritual de substâncias psicoativas como a ayahuasca vem sendo discutido em vários países. No Brasil, o CONAD (Conselho Nacional Antidrogas) do Brasil, retirou a ayahuasca da lista de drogas alucinógenas conforme portaria publicada no Diário Oficial da União em 10 de novembro de 2004, permitindo o uso ritual.
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, encaminhou em 2008 ao IPHAN, um processo para transformar o uso do chá de ayahuasca, em patrimônio imaterial da cultura brasileira. (Fala sério! Não sei se Gilberto Gil tem competência para tal postura – grifo meu).

Liturgia


Estrela utilizada pelos fardados.

Nas várias linhas atuais há diversos tipos de trabalhos, sendo considerados trabalhos oficiais da doutrina os relativos a datas festivas (como São João, Natal), os trabalhos de concentração (realizadas nos dias 15 e 30 de cada mês), os trabalhos de cura como Estrela e São Miguel. Dentro da Linha do Padrinho Sebastião, há ainda trabalhos mediúnicos como de Mesa Branca (Umbandaime).
Os trabalhos de concentração e cura são feitos com os participantes sentados em seus lugares, sempre divididos em homens de um lado, e mulheres de outro, em volta da mesa central.
Há também os trabalhos de bailado, em que os participantes executam passos individuais e padronizados durante a execução dos hinos. São três os ritmos utilizados nas cerimônias daimistas tradicionais, a marcha, a valsa e a mazurca. Cada ritmo tem seu próprio toque de maracá e seu passo específico. O objetivo é executar os hinos e o bailado com a máxima afinação entre os participantes, a corrente, a fim de que se possa atingir um estado de elevação de consciência.
Para participar de uma cerimônia daimista, é necessário usar roupas preferencialmente claras, evitando decotes, bermudas e blusas sem manga. Além disso, as mulheres devem usar saias abaixo dos joelhos. Os Daimistas utilizam um vestuário ritual em suas cerimônias, chamadas "fardas" (herança da cultura cabocla de seu fundador onde um homem fardado merecia respeito – meu grifo), sendo elas de dois tipos: uma chamada de farda branca e a outra chamada de farda azul, possuindo variações para homens e mulheres. Todo Daimista fardado traz na sua farda sobre o peito esquerdo a estrela de Salomão com a águia e a lua crescente, simbolizando uma visão do Mestre Irineu.

Fora da Amazônia


Cipó Jagube.
A "doutrina da floresta" acabou por se expandir pelo Brasil e pelo mundo. Ganhou muitos novos adeptos, incluindo pessoas famosas e de destaque na mídia. Como uma das características do Santo Daime é o conceito de Centro Livre, ou seja, o antidogmatismo e o não-sectarismo religioso, passou a sofrer influencia de diversas tradições espiritualistas e a dar origem a outras vertentes, muitas das quais distanciaram-se muito da doutrina do Mestre Irineu. Ao penetrar em áreas onde era grande a influência de religiões afro-brasileiras, acentua-se as influências negras que já estavam presente em menor escala na doutrina. Influencia a Umbanda também, pois esta passou a utilizar o chá em alguns pontos.
Existem diversos cultos espalhados pelo Brasil e pelo mundo que utilizam a ayhuasca como sacramento, como a UDV (união do Vegetal), proveniente de Rondônia, os "ayhuasqueiros" que utilizam a bebida de forma independente ou não-ritualistica, e que não devem ser confundidos com o Santo Daime.
Nos grandes centros do país, o Daime passou também a ser praticado por grupos de pessoas que já possuíam crenças alternativas, como as religiões orientais. Portanto o Santo Daime em alguns locais recebeu essas influências, em detrimento de suas origens caboclas. Apesar disso, as linhas autênticas de Daimistas estão empenhados e compromissados em manter e preservar as tradições do Santo Daime da forma como esta Doutrina foi vertida da floresta para o resto da humanidade.

Legislação para uso do chá


Dimetiltriptamina, ou DMT, o princípio ativo da ayahuasca.
Em janeiro de 2010 o governo brasileiro formalizou legalmente o uso religioso do chá ayahuasca, vetando o comércio e propagandas do mesmo, que só poderá ser utilizado com fins religiosos e não lucrativos, com a criação de um cadastro facultativo para as entidades que o utilizam. A bebida chegou a ser proibida no país em 1985, sendo liberada dois anos depois, e ocorreu uma nova tentativa de proibição nos anos 1990. Atualmente não havia impedimento para o uso do chá em cerimônias religiosas, porém não existiam orientações para o seu uso em conformidade com o direito.

Atualmente
Diversos centros estão espalhados pelo Brasil, a maioria seguindo fielmente a vertente originada na Amazônia por Mestre Irineu, estima-se que hoje em dia sejam cerca de 15000 adeptos em constante crescimento e contam com uma organização solidária e sem fins lucrativos (embora sob a égide de contribuição para o lanche distribuído, todo ele doado por “fardados”, pague-se um determinado montante - grifo meu).
Alguns centros estão situados em grandes cidades como São Paulo (Céu Sagrado, Jardim de Belas Flores, Céu de Maria, fundado pelo cartunista Glauco, e Céu da Capela, este último liderado por Padrinho Alexandre).
Em 2010, o cartunista Glauco Villas Boas foi assassinado por uma pessoa que frequentou a doutrina. A família do assassino acusa o consumo do chá, de levá-lo a ter delírios psicóticos que desencadeou o assassinato ( o uso da ayhuasca deve ser totalmente vetado a portadores de doenças mentais – grifo meu).
Cruz de Caravaca

A Cruz de Caravaca, também conhecida como Cruz de Lorena e Cruz de Borgonha, é uma relíquia cristã de origem espanhola.
Segundo a tradição, apareceu por milagre na cidade de Caravaca, Espanha, em 3 de Maio de 1232, e, por conter fragmentos do lenho da cruz de Cristo, eram-lhe atribuidos muitos milagres.
Em 1934 a cruz medieval desapareceu misteriosamente, sendo mais tarde foi restaurada por doação, pelo Papa Pio XII, de dois fragmentos do Santo Lenho.
A lenda medieval
De acordo com a lenda, à época da Reconquista cristã da península Ibérica, a região era governada pelo sultão Abu Zeyt e, na cidade de Caravaca havia prisioneiros, sendo um deles o sacerdoteGines Perez Chirinos.
Manifestando Abu Zeyt curiosidade sobre as práticas católicas, decidiu presenciar uma missa, ordenando que o sacerdote cativo lhe celebrasse uma. No dia marcado, o governante reuniu toda a sua família e corte para presenciar a cerimónia, dando ordens para que fosse dado ao sacerdote tudo o que ele necessitasse para o culto. À última hora, o sacerdote lembrou-se de ter esquecido a cruz. Com temor e com vergonha, antecipando a punição por sua falha, viu surgir, do nada, na janela acima de si, dois anjos carregando uma cruz de dois braços, toda de ouro e pedrarias.
O sultão e todos os muçulmanos presentes, impressionados, converteram-se ao catolicismo.