segunda-feira, 7 de abril de 2008

PIPOCAS DA VIDA




Rubem Alves - psiquiatra


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor.
Pode ser fogo de fora: perder um amor, o pai, a mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo. Sem o fogo o sofrimento diminui. Com isso a possibilidade da grande transformação também. Imagino a pobre pipoca fachada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A pipoca não sabe aquilo de que é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado.
Bom, mas ainda temos o piruá, que é milho de pipoca que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém".

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Enquanto ficamos parados em nossa dor, nos lastimando, acusando ou buscando fugas para não senti-la, continuamos milho duro sem serventia. E é exatamente nessa resistência, na película dura do milho que o fogo não se apaga. O consumirá.
Deixar que o calor do fogo nos penetre, fazendo com que nos transforme está a glória do desabrochar da pipoca. Imediatamente o fogo se acalma e podemos nutrir todos à nossa volta.
O milho de pipoca não sabe o que guarda dentro de si, não conhece a pipoca e tem medo do que possa aparecer. O que provoca a neurose e o endurecimento é o medo do desconhecido, pode que a transformação seja melhor, mas o desconhecido é tão assustador que o milho prefere não ousar, mesmo o mal e o ruim, é conhecido e ele escolhe a permanência no estado original. No entanto, a felicidade mora no estado de transformação. A vida se abre para quem quer vivê-la.
Fomos feitos para o eterno aprendizado, cada dia uma nova experiência, uma nova descoberta. Não permiti-las é enclausurar-se, riscar calendário, mas não viver os dias.
Você já experimentou ser diferente? Você já se deu essa oportunidade? Mesmo se forçando um pouquinho você já tentou sorrir? Já desparafusou a cara ao encontrar as pessoas em vez de começar a falar em como tudo está ruim?
Você tentou ser diferente e cumprimentar até quem você não conhece? Bater um papo com o vizinho que desce no mesmo elevador que você?
Quando lhe ofendem, você já tentou tirar um "sarro" de quem lhe ofendeu, mostrando que o outro pode estar errado?
Você já experimentou não ter os grandes segredos dos erros guardados?
Você já se convenceu que é: "Nascido para Vencer"?